Segurança cibernética, gamificação no ensino e acessibilidade nos livros didáticos foram temas importantes de palestras da Semana Interinstitucional de Pesquisa, Tecnologia e Inovação na Educação Básica (Sinpete) e que contaram com pesquisadores ou convidados do Núcleo de Excelência em Tecnologias Sociais (NEES).
O evento ocorreu entre os dias 16 e 20 de outubro em cinco cidades alagoanas: Maceió, Maragogi, Arapiraca, Delmiro Gouveia e Palmeira dos Índios. Atraiu milhares de alunos de 230 escolas públicas e privadas do Estado. Pelo segundo ano, a Sinpete focou em estimular e fortalecer a educação científica e tecnológica, relacionando a educação básica com o ensino superior. O NEES foi um dos parceiros da iniciativa.
A palestra do advogado Mauro Leonardo Cunha, na reitoria da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), atraiu a atenção de muitos estudantes. Ele atendeu um convite do NEES para falar sobre a segurança cibernética.
O pesquisador Leonardo Marques, um dos diretores do NEES, mediou um painel sobre acessibilidade nos livros didáticos e a experiência da Ufal para garantir o Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) acessível.
Já a professora e também pesquisadora do NEES Paula Palomino conversou com professores e alunos sobre gamificação integrada ao ensino.
SEGURANÇA CIBERNÉTICA
Diante de uma geração cada vez mais conectada, o advogado Mauro Leonardo Cunha mostrou ao público, formado em sua maioria por estudantes do ensino médio, que a segurança cibernética é um tema que deve ser motivo de atenção de todos.
“Segurança cibernética não é assunto apenas para especialistas. No nosso dia a dia, temos preocupações com segurança. Ao atravessar a rua, olhamos para os dois lados, por exemplo. Não saímos de casa sem tomar alguns cuidados, saímos vestidos e nos preocupamos se alguém para para tirar uma foto nossa”, afirmou Mauro Leonardo.
“O mesmo cuidado deve ser tomado com atividades online. Ter atenção com o celular, com a fofoca na escola, com o bullying digital. As pessoas precisam ter consciência de que a presença online é a construção de uma imagem que pode ter impactos positivos e negativos na vida pessoal e profissional”, destacou o advogado, que é mestre em ciência da informação.
Na conversa com o público, o palestrante fez uma analogia com as células. “A célula tem dois níveis de membrana. Da mesma forma, devemos ter dois níveis de proteção. Uma proteção para a informação externa, para a informação pessoal que compartilhamos com todos, e uma proteção para aquilo que compartilhamos apenas com os amigos mais próximos e com a família”, enfatizou Mauro Leonardo. O advogado orientou os alunos a preservarem sua privacidade online, assim como a necessidade de cuidar de dados financeiros.
“Não há necessidade de extremismo ou radicalismo. No entanto, é importante adotar uma atitude positiva e reflexiva quando estiver online. Ficar atento ao que quer transmitir ao mundo em vez de simplesmente se conectar sem pensar no que está projetando como imagem pessoal”, destacou o palestrante.
GAMIFICAÇÃO
Professora da Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo (FATEC Matão), Paula Palomino conversou, na Sinpete, com professores e alunos sobre a gamificação no ensino. Esse foi o tema do seu doutorado, realizado na Universidade de São Paulo (USP).
Na palestra, a pesquisadora do NEES apresentou a sugestão de um framework de gamificação para que docentes da educação básica utilizem em suas aulas e que pode ser adaptado conforme a série e o assunto abordado.
Contou também que está desenvolvendo uma nova pesquisa para criar um framework voltado para o docente organizar melhor o planejamento de suas aulas e outra versão para atender alunos com necessidades especiais.
“Em computação, framework é um conjunto de ferramentas para apoiar a programação de algo. Em administração, esse conjunto de ferramentas apoia uma determinada tarefa, e em design, esse conjunto de ferramentas apoia alguma estratégia de criação”, explicou Paula Palomino.
MOTIVAÇÃO
“Na gamificação o aluno se engaja mais e há chance de aprender mais. Aumenta a motivação pois ele é chamado à ação. Com esse framework, criamos uma jornada e direcionamos os estudantes para que possam ter autonomia e experiências diferentes com o mesmo conteúdo”, explicou Paula.
Jovens do ensino médio que acompanharam a palestra confirmaram que gostam e aprendem mais quando seus professores usam estratégias diferentes da tradicional aula expositiva.
Paula afirmou que ao adotar a gamificação, o docente deve apresentar situações em um ambiente seguro e que desafie o aluno a aprender. Mas destacou o cuidado necessário ao aferir recompensas.
“A competição é um aspecto extremamente delicado de trabalhar e deve ser visto com cuidado pois pode promover a exclusão, por exemplo, dos que não sabem. Uma saída é premiar aqueles estudantes que mais ajudaram a fazer com que os colegas aprendessem”, sugeriu.
Questionada sobre o que acha da inteligência artificial na educação, Paula disse que usa e estimula seus alunos também a aproveitarem das ferramentas que a IA oferece.
“Não temos como fugir. A IA não vai diminuir a educação, ao contrário, vai aumentar o pensamento crítico porque você precisa entender do assunto que quer perguntar para ter uma resposta de qualidade. Como professora, eu aprovo e incentivo o uso”, afirmou.
“O que vai diferenciar é quem sabe usar com ética e responsabilidade e quem sai fazendo as coisas sem controle. A ferramenta está aí. Devemos direcionar para que seja usada da melhor forma e estimule o pensamento crítico”, enfatizou a pesquisadora do NEES.
ACESSIBILIDADE
O NEES é um dos principais parceiros do Programa Nacional do Livro Didático e do Material Didático (PNLD), do Ministério da Educação (MEC). Leonardo Marques, que também é professor da Ufal, mediou o painel Acessibilidade nos Livros Didáticos: a experiência da Ufal na garantia do PNLD acessível. Alunos do ensino médio aprenderam sobre a importância de materiais didáticos acessíveis.
A atividade teve a participação de Jean Bernardo, coordenador do Núcleo de Acessibilidade da Ufal (NAC). Também estavam presentes Katianne Lima e Hevelyn Oliveira, que fazem parte da equipe de gestão das análises de acessibilidade do PNLD e a vice-coordenadora da Sinpete, Regina Maria.
“Apresentamos o contexto geral da evolução do processo de transformação digital das obras do PNLD e como a Ufal tem induzido, junto ao FNDE [Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação], a implementação da análise de acessibilidade para as obras didáticas”, destacou o diretor do NEES. “A gente recuperou um pouco da importância da obra digital como suporte à prática docente, e em particular a importância de que essa obra digital seja acessível. Houve esse detalhamento geral desse processo, do impacto e da relevância”, explicou Leonardo.
PLANEJAMENTO
Para Katianne Lima, gerente da equipe de acessibilidade do NEES, encontros como este facilitam a compreensão sobre os processos dos trabalhos desenvolvidos pelo PNLD, FNDE e Ufal: “É importante para que as escolas possam entender um pouco do nosso trabalho e saber o que vai chegar nas escolas enquanto material acessível”, comentou.
Esses processos foram detalhados por Hevelyn Oliveira, supervisora da equipe de acessibilidade do NEES: “A gente vai desde o planejamento de como esses livros vão chegar e de como fazer com que esses livros sejam acessíveis. Fazemos testes de acessibilidade e a análise completa. Temos em nossa equipe pessoas com deficiência visual e especialistas na área de acessibilidade”, contou.
Jean Bernardo é uma dessas pessoas. Ele foi o painelista e apresentou uma perspectiva histórica sobre os acontecimentos que marcaram o caminho da análise da acessibilidade.
“A importância desse trabalho é que nós estamos dando a possibilidade de crianças e jovens que tenham alguma deficiência de terem acesso a um material que poucos anos atrás não tinham. E isso vai fazer a diferença entre nós termos, por exemplo, um ministro da Educação cego ou surdo, como em outros países. A educação é fundamental”, analisou Jean, que também é supervisor da equipe de acessibilidade do NEES.
Regina Maria, supervisora de equipe de triagem do PNLD e vice-coordenadora da Sinpete, falou sobre a presença dos alunos durante o painel: “É muito importante que os estudantes compreendam como se dá todo o processo de trabalho da equipe de acessibilidade para que o livro chegue de forma acessível nas escolas”.
FUTURO
No encerramento da Sinpete, o diretor geral do NEES, Alan Pedro, destacou a satisfação em ver a intensa participação dos estudantes da educação básica no evento.
“São vocês que vão determinar o futuro desse Estado. Espero que o evento cresça a cada edição e que cada um de vocês possa multiplicar esse movimento. Vocês estão fazendo parte da transformação de Alagoas, sem dúvidas. É somente através da ciência que vamos conseguir mudar a nossa realidade, a realidade de cada um de vocês”, comentou Alan Pedro.